26/02/2021
Um grupo de abelhas passa voando próximo a colmeia até que observa num campo de flores próximo que a abelha zangão está deitada ao lado da flor, que provavelmente ficou por bastante tempo, até que uma das abelhas diz: "Olha lá a zangão passando vergonha novamente! Deve ter ficado nos girassóis o tempo todo. Ouvi dizer que ela não trabalha mais... não produz mel a tempos...".
Mas para uma rápida passagem, seria isso, uma abelha que não produz, ou que não consegue mais gerir e se gerir? Vamos entender o cotidiano dessa abelha. Ela aqui vai atender pelo nome de Zangs.
Zangs, sempre fora uma abelha de comportamento difícil, mas como não seria, quando se vem de uma colmeia, onde quando ainda muito jovem, viu o próprio pai abelha o abandonar e a sua família, trocando-os por uma outra colmeia mais jovem, ou simplesmente diferente? Talvez fosse o formato da nova colmeia, um hexágono menos complicado de lidar, infelizmente jamais saberei. Aliás, eu sou uma abelha sortuda, filho único de Zangs, talvez a motivação dele ir pra colmeia e produzir mais mel que todas as outras, talvez o motivo de ele se encontrar deitado junto as pétalas de um girassol, completamente sem condições. Talvez não seja bem isso, mas como eu sou uma jovem abelha, ilustrarei ou não as coisas como elas aconteceram, porque afinal de contas, estou no meu processo de aprender tudo: como deixar o pólen nas flores, como produzir mel, etc etc. Mas já deixo registrado que não fui nada instruído, e posso cometer erros, assim como os fiz.
Quando se é uma jovem abelha, tudo é ótimo, você não tem muito o que fazer além das coisas que a rainha pede, que é manter meu ferrão no caminho certo, e depois disso posso me divertir, claro que longe dos girassóis, porque não quero me tornar meu pai. As vezes penso que sou uma abelha injusta, incompreendida, e um pouco desafetuosa com as outras abelhas, e não entendo bem o porquê de ser assim. Hoje, acredito que dou orgulho para minha mãe, a grande abelha rainha, que se mantém forte e espalhando seu amor por nossa colmeia.
Mas voltemos um pouco, pois já estou um pouco velho, e nos dias de hoje, Zangs, do qual falo, faleceu há algum tempo, o suficiente para enxergar com o mínimo de empatia, e quando digo mínima, acredite, pois nós abelhas, não somos conhecidas por sermos empáticas.
Me recordo de minha juventude na colmeia, no período que ainda não polimerizava flores e não produzia mel, um período muito complicado, pois Zangs não conseguia produzir mel, então não restava muito o que se fazer. Ficamos algum tempo juntos, já que a rainha tinha de sair e produzir o mel suficiente para nós, então ficávamos na colmeia, ambos sem produzir, eu por motivos óbvios, e Zangs por questões complexas à minha compreensão a época. Assim sendo, ele tomou gosto pelo girassóis, esses que alteravam seu estado. Outras abelhas os consumiam e só ficavam felizes e afetuosas, mas Zangs não. Os girassóis o tornavam agressivo, insuportável e incompreensível. Eu era uma jovem abelha, naquela época tinha muita raiva, toda ela reprimida e descontada nos outros, como aprendi vendo Zangs.
Gostaria de ter mais detalhes sobre esse período, mas como se diz entre nós: não conte com a memória de uma abelha, pois pode ser ferroada.
E assim se seguia: Zangs sempre alterado, e eu acumulando raiva e ressentimento. Isso me lembra um período, em que a rainha já estava produzindo mel para nós, e com um zumbido aqui e outro ali, me deu de presente um Bee Station 2. Aquilo era incrível! Eu brincava sem parar e ainda trazia outras abelhas amigas e nos divertimos bastante, era muito bom! Dessas passagens, lembro de estar com duas abelhas brincando quando Zangs chega balbuciando coisas e destrói meu Bee Station 2.Aquilo só não era mais doloroso do que sentir a miséria que a rainha passava, e não saia da minha cabeça que a culpa era minha. Eu nasci, cortei suas belas e jovens asas para que ela se ativesse a uma abelha zangão que não a compreendia e escalonava cada dia mais à violência, ao ponto que uma vez me peguei observando-os discutindo, coloquei meu ferrão em riste e não disse nada, mas se fosse preciso tiraria Zangs desse mundo. Ainda bem que não foi necessário, caso contrário, não estaria contando essa história.
Graças a infinita coragem da Rainha, e também com a criação da Abelha da Penha, que protege as rainhas das agressões dos Zangões. Zangs foi obrigado a se retirar, e se manter a 50 colmeias de distância dela. Após isso prometi a rainha, a Minha Rainha, que jamais daria trabalho, e que seria uma ótima abelha, pelo menos mil vezes melhor que Zangs, mesmo não tendo ideia de como fazer isso, e que ela iria se orgulhar de mim. A Rainha seguiu prosperando, e eu a jovem abelha, hoje, após algumas flores polimerizadas e bastante mel criado, me questiono o que significa o que disse há anos: “ser melhor”. O que eu queria dizer na época, era simples e de um jovem coração de uma abelhinha em fúria. Mas existiria isso de ser melhor que foi meu pai? Essa não foi uma resposta fácil. Em certos períodos, eu fazia o oposto que fez Zangs, mas seria isso o suficiente? Não!
Jamais se tratou disso, pois em minhas veias ainda corre o DNA de Zangs. Essa pergunta de extrema dificuldade a qual a resposta parecia nunca vir, e o que eu zumbia, somente parecia uma forma de protesto a Zangs, e isso não fazia sentido, pois se ele era uma abelha tão distante, lembrada raramente, somente para exemplos desagradáveis, percebi que estava tudo errado! E como um vento fresco a resposta veio, seja você! Seja uma abelha, se conecte com as outras colmeias, se conecte com você, seja o zumbido de sua própria frequência, não se preocupe com Zangs, ele não está morto, só jamais será capaz de encontrar a si mesmo, e assim sempre zumbindo em frequência errada.
Edvaldo Ferreira
Cocriador do Palavras Brutas, escritor amador de ocasião, sem formação acadêmica, em busca de entender o que sinto através da palavras, ou se não, em busca da jornada constante de autoconhecimento e afeto próprio , fascinado com cinema e música, e não apoia o uso de tabaco!
Você é sempre foi a razão do meu viver, se eu pudesse voltar no tempo faria tudo de novo, só para ter você em meus braços.