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Back to Africa




Erick Sabino Experience #001


Períodos de guerra, loucura, tristeza e confusão. Nada de novo abaixo do céu, ne?! É como as coisas são normalmente. Pelo menos eu vejo assim, vejo o mal em tudo e agora só foi mais um combate que se eclodiu. Estando em território europeu ainda a consigo enxergar de outra forma, a partir dos olhos de quem já passou pela guerra e só quer conseguir evitá-la. Por ironia da realidade ou não, consigo perceber que nas diversas formas que enxergo essa guerra, por exemplo, notícias vindas do Brasil, da Inglaterra ou da em Europa em si possuem uma certa discrepância entre os sentimentos causados. Quero falar sobre o ponto de vista que me bombardeia daqui. Por mais que seja bom receber a notícia mais rápido é, porém, um choque ouvir certos métodos usados para fazer paralelos entre tipos de povos. É pesado ler e ouvir coisas do tipo: ‘‘é muito emocionante pra mim porque eu vejo cidadãos europeus, com olhos azuis e cabelo loiro sendo mortos com os misseis de Putin’’. ‘‘Nós estamos sendo atacados como se estivéssemos no Afeganistão, dá pra imaginar?’’ ou coisas do tipo: ‘‘o impensável aconteceu, isso não é um país de terceiro mundo, isso é Europa!’’. ‘‘Não são refugiados da Síria, são da Ucrânia. Eles são cristãos, eles são brancos. São muito parecidos com a gente.’’ Sinceramente isso machuca um pouco ao ouvir (um pouco porque eu já toquei o fodas pra humanidade há anos) mas principalmente sendo preto, favelado. Isso tudo me remete às minhas origens ali na região de Venda Nova, regional dentro do município de Belo Horizonte. Me faz pensar na minha trajetória até aqui. Mas sem muito romance com o saudosismo o pensamento pula logo pra penúltima experiência racista que vivenciei em solo europeu, apesar de eu não considerar Irlanda bem Europa. Era um belo dia, se não me engano estava de folga do meu exaustante trabalho de limpeza, levantei, abri a minha cortina e lá estava ele, o qual já não via há tempos: maravilhoso o sol, iluminando a grama verde esmeralda dos passeios do meu bairro. Forster Court, county Galway, lugar especial demais; e nesse dia lá estava eu me preparando pra ir em um dos lugares perto do mar, os quais me inspiravam. Dei uma bolotinha, fiquei alto, cabeça de balão e lá fui eu. Fone no ouvido, óclinhos escuros, em um momento que paz maior era impossível. Passei pela praça Eyre Square e quando chego ali um pouco depois da CEX antes da entrada lateral do Shopping, percebo uma movimentação estranha. Um sujeito vem pro meu lado e, mesmo sem eu olhar pra ele, fala em tom agressivo algumas palavras que no momento eu não captei. Não era mesmo de se esperar que eu iria estar prestando atenção em alguém sendo que o dia estava lindo e ensolarado, eu estava alto nos céus mesmo, seguindo o ‘’carpe diem’’. Dois segundos depois do acontecido voltei pra terra e meu cérebro processou aquele brado, entoado como se fosse um brado de vitória.


‘‘Go back to Africa!’’


Olhei pra trás relutante, era mesmo pra mim? Vi o pobre coitado que tentou exercer seu direito de colonizador. Meu primeiro pensamento após essa cena que durou em torno de 4 segundos foi: - Ó, o loco! Eu sei quem é esse maluco! Já vi onde ele fica, é só um noiado alcoólatra que eu sempre vejo ali na região da rua do mercado (Market street). Porque raios agora, logo agora depois de quase um ano e meio esse maluco vem mexer comigo? - ainda nos meus pensamentos. Depois disso meu dia seguiu e eu fui aproveitar, né?! Porém, durante algum tempo, meu cérebro, antes de chegar à conclusão de que o racista é só um pobre coitado que leva uma vida frustrada, sem sentido, só pra ser mais um na estatística. Meu cérebro, como ia dizendo, começou a maquinar o mal. ‘‘Eu sei onde ele cai chapado, sei onde não tem câmera aqui do lado, não dá nada pra mim quebrar esse cara todo na porrada. Até cheguei a comentar com um ou outro mais chegado, mas como disse, cheguei àquela conclusão; e eu sou muito mais que isso. Pra fechar, a Irlanda nem foi um país colonizador, foram colonizados pelos Ingleses. O povo irlandês é muito amigável, posso dizer que me senti em casa no quesito relacionamentos interpessoais, só esse cara aí era um coitado mesmo; e o jovem ‘’baladeiro’’ é comicamente desagradável. Por que eu não considero a Irlanda Europa? Porque não é! Apesar de usar euro e estar nas paradas de (quase) sucesso. A colonização passou pesado na terra do tio Paddy, o São Patrício lá do St. Patrick’s day (Lá Fhéile Pádraig em irlandês). É reino unido puro, dirige na esquerda, os carros são invertidos e os ônibus característicos de dois andares. Grande parte da ilha no decorrer da história, ali entre 1919 e 1921 na guerra pela independência irlandesa (The Irish War of Independence), se libertou; o Estado Livre Irlandês então foi formado e o tratado Anglo-Irlandês foi criado, deixando ali uma beiradinha pra coroa da tia Betty ainda. Irlanda do Norte, onde tive o prazer de entrar ainda antes do Brexit numa viagem de carro no início da pandemia, agora seria bem mais complicado. É isso, nem me incomodo com o ocorrido, vou vivendo, fazendo meu corre feliz. Mais uma coisa antes de um último ponto final. Minhas sinceras condolências a todos os que sofrem com a guerra. Tenho conhecidos ucranianos e uma amiga que está vendo o país sendo destruído com os pais ainda lá. Seus avós não quiseram fugir, o que é bem compreensível para pessoas em idades avançadas, então os pais também ficaram e estão diariamente correndo riscos, escondendo-se em abrigo de bombas e misseis, terrível! Mas racismo não vai passar batido!

 

Erick Sabino



Erick Lucas Sabino é apenas um rapaz latino americano nascido em Venda Nova (regional de Belo Horizonte – MG) que assim como outros antes do seu tempo, sem dinheiro no banco, mas com muitos sonhos atrevidamente grandes. Desde a infância, muito curioso, sempre estava procurando algo novo pra descobrir; numa dessas descobriu (ou foi descoberto) pela música. Dedicou-se, desde criança, aos estudos teóricos dessa maravilhosa arte e a pratica de instrumentos musicais. Viveu diversos dramas, aventuras e conquistas no decorrer da vida que o fizeram viver enclausurado no seu próprio medo de errar. Em 2010 foi morar em Trindade - Goiás, onde aprendeu muito sobre a vida, sobre o cristianismo e suas vertentes e também sobre o comportamento do ser humano. Em 2018 decidiu encarar uma graduação em música pela UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais), a qual abandonou logo após o primeiro período para travar outras aventuras mundo a fora. Em agosto de 2019 se mudou pra Irlanda onde estudou Inglês por um ano e meio em paralelo à muita música na rua, em pubs e restaurantes; além de um serviço de limpeza, que mantinha as despesas básicas. Em janeiro de 2021 se mudou pra Berlim e além de um bacharelado em economia e o trabalho em uma cafeteria, vem fazendo música, trabalhando em gravações remotas, mixagens e masterizações para artistas no Brasil e Irlanda. Em meio a pandemia e pandemônios, o cenário musical alemão ainda não se abriu pra música do jovem latino americano, mas ele vem trabalhando fielmente em seu trabalho autoral desde o início do vigésimo primeiro ano do século 21. E assim segue.

 

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