Nasci, cresci e aprendi a viver num berço de Lítio. Tudo na minha infância teve contornos coloridos. Contornos nada racionais. Já dizia eu: a sobriedade é que me assusta! Ouvi de todos e de tudo que quem me ensinava sobre a vida não tinha liberdade de viver. Foram bons anos até eu me entender nessa loucura. Foram muitas loucuras até eu entender que eu estava sã demais. Eu olho e vejo gente louca pra ser louca se equilibrando em papel de gente normal. Eu olho e vejo que ela apenas vive com seu rótulo de doida e com muito prazer! Psicose maníaca depressiva? Bipolar? Seja Carbolitium ou Carbamazepina? Ou cerveja e nicotina? Quem você precisa domar hoje?
A liberdade contida na loucura assusta. Assusta gente sã que anseia sair por aí gritando, mas não pode. Ahhhhh, não pode! Não pode porque tem que ser tudo dentro do padrão e ouse você questionar o Não. Eu que desejava a vida tranquila quando era pequena nem sonhava que tranquilo era quando ela me deixava ser eu. Sem se importar com você. Eu que chorava e insistia que ela tomasse seu remédio, estava completamente dominada pela urgência que todo mundo tem de ser normal. Estava dominada pela insipiência de ser filha. Porque todo mundo dizia que mãe cuida de filha e que se tem algo fora do lugar é coisa errada da mãe. Ninguém me dizia que a vida nunca tem lugar certo, que mãe encaixa no papel de filha e filha encaixa no não poder errar de mãe.
Eu queria ser sã. E nada mais perturbador pra vida que quer viver nos conformes (blé) que um pouco de agitação. E nada mais dolorido pra filha que ama mãe querer proteger ela do mundo que finge que é pura sanidade, mas que no fundo está todo mundo maluco. Ainda bem que eu crescia e questionava. Porque só vindo do berço da loucura pra querer mudar o mundo seguro que te segura. Só fazendo parte e sendo moldada na desestrutura para entender que firme mesmo é quase nada. Só tendo liberdade para viver que eu entendi que presos estavam todos os outros que queriam aprisioná-la nos seus planos perfeitos e comportados. Só tirando as máscaras e vendo todo mundo nu, que eu vejo que a real loucura é acordar às 6h, trabalhar até às 17h e fazer isso até morrer.
Ninguém me disse: ela maneira! Louca, insana, livre, controversa, atrevida e maneira!
Ainda bem que eu descobri. Ainda bem que minha educação veio de uma mente nada normal.
Helena Richthofen
Escrever está comigo desde que aprendi as primeiras palavras da minha vida. Escrevo diários, cartas e textos. Amo ouvir e contar histórias. No fim, eu entendo que nada mais basta para nos preencher se não compartilharmos o que ouvimos, vivemos e sentimos. E a minha forma de fazer isso é tecendo narrativas em busca de deságue dos sufocos e gozo das alegrias.
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