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Memórias póstumas para os vivos




No início dos anos 2000, não consigo me lembrar com exatidão. Era um período maravilhoso! Natal com minha família toda reunida na minha casa e com todas as crianças possíveis que eu conhecesse na época vinham pra casa comigo pra brincar, era o ápice de uma infância!

Nessas festas sempre vinha um tio avô de parte de mãe, alguém simpático e de sorriso simples, de certo modo vendo hoje ela me trazia o que não pude viver com a minha vó por ter partido quando eu era jovem, eram tempos maravilhosos.

O tempo passa, e me pego sendo obrigado a ir num lugar que jamais havia ido, o cemitério.

Chegando lá, não tinha a menor consciência de nada, me divertia com meus primos com o desafio de tocar o defunto, palavra que eu achava engraçada, até então somente vivia aquele momento até receber um xingo por estar agindo de forma inadequada. Então veio o momento que descobri a agonia, o tio avô que eu nem era próximo, só dava benção por obrigação tem seu caixão fechado e começam a jogar terra sobre a peça de madeira. Aquilo me tomou de assalto e comecei a chorar desesperadamente, até hoje não sei se era por ele, por mim ou por minha avó, que admito, sinto falta até hoje.

Essa lembrança de mais de uma década me vem quando penso o que seria de mim após tudo, seria eu alguém que morreria cheio de arrependimentos?

Angústias?

Sentimentos represados?

Isso parece terrível, não? Uma existência toda baseada em arrependimento e culpa.

Mas isso também me trouxe à tona quanto às terças feiras de 18 as 00 eram algo de se elogiar. Chamávamos de "terapia" onde jovens homens traziam seus problemas e anseios. E de uma forma que jamais saberia explicar, uma irmandade que se vai até onde nunca pisei. Aquilo por acidente se tornou uma filosofia. Pelo menos pra mim. Sempre diga o que sente!

Então a partir disso, sempre me esforço a dizer o que sinto, e a reconhecer o que sentem. Uma tentativa genuína de se conectar aos outros, dizer que os ama e que aqueles momentos são maravilhosos quando partilhados.

Essa é uma sensação ótima, reconhecer os momentos, permitir se sentir, e deixar os outros saberem quando te fazem bem e alertá-los quando fazem mal, tanto a si quanto aos próximos.

Como diria uma música do Zezé di Camargo e Luciano: " eu quero viver a vida, quero flores em vida", arrisco dizer, quero saber que fiz a diferença. Não pelo meu ego, mas sim pela minha alma.

Se de alguma forma, minha avó Ana e meu tio avô Zé estiverem recebendo essa mensagem, quero que saibam que sinto a falta de vocês, e que sempre vou manter suas memórias vivas comigo, e sinto por não ter a oportunidade de chegar a uma catarse a tempo.


Nós vamos nos ver de novo.


 

Edvaldo Ferreira



Criador do Palavras Brutas, escritor amador de ocasião, sem formação acadêmica, em busca de entender o que sinto através da palavras, ou se não, em busca da jornada constante de autoconhecimento e afeto próprio. Fascinado com cinema e música.

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1 Comment


guilhermina_2013
guilhermina_2013
Dec 30, 2021

Lindo demais 😍

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