Te vejo na minha frente, é destoante da forma que te imagino.
Te abriguei em meus pensamentos, e moro junto à ti em um quarto esfumaçado com pequenos focos de luz.
O pouco som que ouço em meu corpo vem de trás da porta que habitas, tua voz trêmula chama meu nome, entre um sussurro e outro você pede mais.
Agora, admirando você frente a frente me sinto encabulada, tu não sabes nem a metade dos atos que juntas fazemos em meus pensamentos.
É totalmente ilícita a voz que ecoa dentro de mim, me lembrando do teu corpo e me instigando a imaginar se meus pensamentos condizem com a realidade, se a paleta de cores a qual te desenhei está correta, me atrevo a me parabenizar por ter escrito tão bem suas medidas na minha mente.
A conversa flui, ouço sua voz dizendo coisas corriqueiras, no entanto ela se distorce ao penetrar meus ouvidos, e se desenrola a alimentar meus sussurros. É tão doce que eu poderia saboreá-la por um dia inteiro.
Compreendo que erro ao não ouvir o que tens a dizer, mas tente me compreender, mulher. Você tira meu juízo.
Resolvi aceitar seu convite feito por educação, mas de algum modo até me esqueço de refletir se estou sendo inconveniente ou não.
Fito cada gesto teu na esperança de vir então um convite para eu libertar tudo o que sinto em meu corpo. Com o andar seu cabelo se desprende do coque mal arranjado que deduzo que tenha feito as pressas ou talvez eu pense isso por que seria complicado demais aceitar o fato que não se importou tanto assim ao ponto de elaborar um penteado... Que seja, fico com a primeira opção.
Observo seus cabelos caírem sobre seu rosto, e tenho um vislumbre de uma de nossas noites no meu quarto secreto, vejo você sobre meu corpo, jogando para trás seus cabelos e o deixando cair como uma cascata em suas costas, desenhando suas curvas e ressaltando o movimento repetitivo do seu corpo por cima do meu.
Recobro-me a realidade, entramos em um restaurante qualquer que nem me dei ao trabalho de analisar o nome. Inicia-se uma conversa torpe sobre o tempo, perdoe-me por não lhe dar a devida atenção, juro que tento, eu juro. Mas é inevitável... Parece que estamos em uma cena clichê de um filme decadente, o cenário em câmera lenta, as garçonetes que se alinham como se a qualquer momento todas fossem começar a cantar em um coro extravagante. Solto uma risada sarcástica ao desenhar isso na minha mente, ela me olha como se estivesse me julgando mas sei que não está, vai contra seus princípios.
Sua simpatia inunda todo o ambiente, seu sorriso é inocente, e também me leva a pensamentos obscuros nos quais ali me perco... Retorno a pensar naquela noite em particular que tive sensações indescritíveis, me lembro de sentir o calor das suas pernas ultrapassando meus cabelos atrás das orelhas, de sentir seu gosto molhado em meus lábios, das suas mãos impulsionando minha cabeça mais a fundo, da minha mão que ia em direção aos seus seios de forma quase que involuntária, do seu corpo se contorcendo sob meu lençol molhado, dos seus olhos se fechando em meio ao êxtase, dos seus lábios cerrados que levemente se transformava no mesmo sorriso que presencio agora... Um sorriso genuíno que vela uma autêntica malícia.
A conversa se desenrola em assuntos primários, aquelas cordialidade que no fundo ninguém se interessa, tipo, “Não, eu não estou interessada em saber do tio do seu cunhado com problemas de saúde” e isso deveria ser bem óbvio, me devaneio em pensamentos como este quando ouço meu nome, o qual mais parece uma aposta mal sucedida nos tempos joviais de minha mãe, ela repete meu nome em tom mais firme... Eu a olho com leve desconforto, tenho a impressão de que ela rachou meu crânio e encontrou nosso quarto secreto. Mas não era isso, ela começa a falar sobre sua real intenção em ter vindo conversar comigo.
Ela começa com um longo discursos sobre sermos apenas amigas, reviro os olhos internamente e penso o quão ela é muito mais atraente com poucas palavras, ela dá continuidade em sua dissertação sobre como um sentimento inapropriado pode afetar nossa relação, ela usou alguns outros argumentos, mas confesso que não estava prestando atenção, observava a forma como seus lábios se moviam, fui transportada quase que instantaneamente à aquela noite... Seus lábios macios e rosados passavam sobre os meus, ela dançava com a boca em meu corpo, desfilava sua língua em meus seios e isso me fazia delirar, dava suaves beijos em minha barriga, era como um show de atrevimento transvestido de inocência, ela me olhava como quem pedia permissão para ir adiante e com uma intensa respiração eu a concedia, nesse momento era como se eu pudesse ver todas as estrelas bem no fundo dos seus olhos, aquilo me enlouquecia, trazia a tona meus sentimentos mais banais e não sentia vontade alguma de ir embora. Mas algo me obrigou, uma pergunta vindo dela, “Entende o que estou dizendo?” Eu acenei com a cabeça, não porque concordava ou entendia mas sim porquê eu só queria ir embora dali o mais rápido possível para me refugiar em nosso quarto.
Nos despedimos, ela com um sorriso envergonhado, e eu com várias inspirações para usarmos em meu quarto e a calcinha mais pesada que o comum... No caminho de casa reflito como eu não a mereço, ela é boa demais para mim e merece alguém que a escute e não somente a deseje... Eu a desejo, e nada mais. Desejo de todas as formas possíveis em todas as posições possíveis, ao convencer a mim mesma disso, logo minha mente volta àquele quarto, e lá novamente me perco e me encontro, me encontro com todos os meus prazeres ocultos e por lá mesmo eu resolvo ficar.
Anônimo(a)
Acidez, onirismo e cru!
Esses adjetivos definem nosso(a) escritor(a), um sonho, um desejo e a sensação de que todas as correntes da mente devem ser quebradas, assim libertando essa alma de sofrimento e tesão, ambos em constante batalha em busca de algo que está além da compreensão.
Obs. 01 : não há foto por motivos óbvios.
Obs. 02: descrição baseada no conhecimento dos editores deste blog sobre a pessoa que escreveu.
Oi anônima(o)!