Erick Sabino Experience #002
Chego em casa do trabalho, alcanço uma taça no armário e coloco uma música pra tocar meio que imaginando como isso seria lá por meados dos anos 1900, sabendo que em 1923 ainda era tabu alguém estar escutando música sozinho em casa. Se chegasse um amigo nesse exato momento ele estaria provavelmente se perguntando se eu estava realmente sozinho, se alguém não estaria lá escondido em algum lugar da casa - só eu e meu fonógrafo? Inconcebível! - pensaria ele. A taça que tinha pegado agora se encontra ao meu lado e por forte influência do seriado Peaky Blinders está preenchida com um dedo e meio de uísque irlandês – o famoso Jameson. Dou um gole nesse fluido cor amadeirada que desce com uma mistura de ‘‘um, isso até que é bom’’ com ‘‘cruz credo, como pode alguém gostar disso’’. Nessa ‘’vaibe’’ me coloco a escrever com a intenção de sumir, desaparecer em meio às palavras mal traçadas da minha caneta bic no papel - é, eu ainda sou desses que precisa sentir a caneta rolar o papel deixando ali um pouco de tinta. Em outro gole, nesse um pouco menos prazeroso que o anterior, percebo que vim pra tomar um momento de distância do meu ego.
Quem sou eu sem ele?
O que resta de mim quando eu o deixo de lado?
Uma coisa que me dei conta quando eu me distancio do ego, foi que se torna mais fácil de fazer ‘’arte pela arte’’ sem a obrigação ou a tendência de querer tirar algo da garganta ou me livrar um sentimento ruim que me atormenta. Estranhamente eu me torno bom com palavras e componho melodias intensamente sentimentais, como se abrisse a jaula que guarda uma fera frondosa e dominante, me deixo escapar!
Nesse lapso de criatividade sem reservas começo a observar o potencial que têm minhas criações e reflexões. Noto que no presente momento tudo o que me falta para acontecer é dar espaço para meus medos de escrever mal, compor uma melodia ruim ou não alcançar muita gente com minha música, irem para longe de mim. Percebendo bem, acabo levando em conta que tudo isso que me assola são apenas estágios diferentes do meu ego tentando me oferecer proteção. Entendo que há diversas camadas do ego que quero deixar de lado. Numa dessa eu até penso: - olhe só, talvez seria uma ótima ambição trabalhar fundo nessa de deixar o medo de não ser perfeito de lado (apesar de já saber das falhas em mim que o ‘’longo da vida’’ desenvolveu, que nem é tão longo assim na verdade). Imagina só?! Ser alguém no mundo? Com algo que vem de mim inspirar pessoas?
Penso, repenso, imagino e visualizo. Dou outro gole no fluido amadeirado.
Imagina o quão bom seria viver sem tentar ser ‘’sem falhas’’. Imagina só o que eu poderia fazer com toda a energia que eu gasto não sendo ninguém ao invés de ser alguém que as pessoas não gostem, que por acaso não caiu na graça das pessoas. Imagina só ser eu mesmo sem medo do que vem de fora?
Só de imaginar tenho calafrios!
Cadê o ego que estava aqui?
Ah!! Finalmente você voltou! Imagina o que eu seria sem você.
Ainda bem que você está aqui!
Berlim, 3.3.22
Erick Sabino
Erick Lucas Sabino é apenas um rapaz latino americano nascido em Venda Nova (regional de Belo Horizonte – MG) que assim como outros antes do seu tempo, sem dinheiro no banco, mas com muitos sonhos atrevidamente grandes. Desde a infância, muito curioso, sempre estava procurando algo novo pra descobrir; numa dessas descobriu (ou foi descoberto) pela música. Dedicou-se, desde criança, aos estudos teóricos dessa maravilhosa arte e a pratica de instrumentos musicais. Viveu diversos dramas, aventuras e conquistas no decorrer da vida que o fizeram viver enclausurado no seu próprio medo de errar. Em 2010 foi morar em Trindade - Goiás, onde aprendeu muito sobre a vida, sobre o cristianismo e suas vertentes e também sobre o comportamento do ser humano. Em 2018 decidiu encarar uma graduação em música pela UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais), a qual abandonou logo após o primeiro período para travar outras aventuras mundo a fora. Em agosto de 2019 se mudou pra Irlanda onde estudou Inglês por um ano e meio em paralelo à muita música na rua, em pubs e restaurantes; além de um serviço de limpeza, que mantinha as despesas básicas. Em janeiro de 2021 se mudou pra Berlim e além de um bacharelado em economia e o trabalho em uma cafeteria, vem fazendo música, trabalhando em gravações remotas, mixagens e masterizações para artistas no Brasil e Irlanda. Em meio a pandemia e pandemônios, o cenário musical alemão ainda não se abriu pra música do jovem latino americano, mas ele vem trabalhando fielmente em seu trabalho autoral desde o início do vigésimo primeiro ano do século 21. E assim segue.
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Parabéns Erick, você me representa quando diz: "Imagina só o que eu poderia fazer com toda a energia que eu gasto não sendo ninguém ao invés de ser alguém que as pessoas não gostem"