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Uma ode a vida



Cara, quanto tempo que não escrevo assim. Que me sinto na juventude nostálgica que considera o ano passado distante e com um carinho de vinte anos de memória.

Tem coisas que a gente adora mencionar, falar sobre, até tentar trazer um ar artístico pra aquilo. Mas quando bate de forma direta e sem direito a dúvida, são incompreensíveis.

Eu perdi meu tempo irmão de criação, mesma idade, mesmo lote, mesma vivência. Eu aqui, ele não mais.

E tão chocante pensar nisso, que deveria ser um crime partir tão cedo.

Eu tava seguro que seria a fortaleza pra prestar auxílio, até olhar naqueles olhos vazios e sem sequer entender o que tinha acontecido além do fato que aconteceu.

Ao invés de ajudar, precisei ser ajudado, uma sensação estranha e até difícil de aceitar pra mim. Mas como a gente teima em achar que sabe das coisas, elas vem e te atropelam.

Sinto tanto pelos meus tios, e uma coisa inominável essa dor, que só no abraço já vi que não tinha nenhuma capacidade de ajudar a suportar aquilo. E que bom que entendi isso rápido, porque não e o meu espaço ali. Tenho minha dor e sofrimento, mas saber que o outro está em total desolação me coloca em meu lugar.

Morrer e tão prático, vc sai de um corpo de carbono e se torna outro corpo de carbono, agora em forma de papéis, e são muitos papéis. Pra sair de um lugar pro outro, pra ser visto a última vez, pra ter a foto do seu sepultamento registrada pra fins de prestação de contas, por que afinal, tem pessoas ali trabalhando e tem a quem responder.

Tudo tão coordenado e cronometrado, vc tem quatro horas de choro, um sábado e domingo para luto porque segunda já começa o expediente e volta ao massacre cotidiano.

Mas isso e uma ode a vida? Ou só uns lamentos sobre a morte e a burocracia envolvida?!

Eu queria dizer tanta coisa, assim como todos.

Mas não foi possível.

Mas sempre vou lembrar daquelas tardes onde nós três e o nosso tio estávamos na rua soltando papagaio sem perceber que aqueles momentos eram mágicos.

Ou então das defesas que você fazia no gol e como pegava pra caralho! Era difícil fazer gol no cê.

Vou lembrar de você me incriminando com a minha mulher sobre os momentos que a gente bebia e ficava loucos e felizes quando mais jovens.

Ou simplesmente sentados num domingo a noite bebendo na calçada enquanto a gente só ria e não pensava na segunda.

Você foi meu irmão, meu amigo e um orgulho de pessoa. Aquele que com um carisma encarava todo mundo.

Amo você irmão e pra sempre vai viver no meu coração.

Descanse na paz.

 

Edvaldo Ferreira


Criador do Palavras Brutas, escritor amador de ocasião.

Em busca de entender o que sinto através da palavras, ou se não, em busca da jornada constante de autoconhecimento e afeto próprio.

Fascinado com cinema e música.


Futuro agitador cultural.

 

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